Pular para o conteúdo principal

MT: Disputa de terra gera conflitos entre índios xavantes e moradores


Xavantes cobram cumprimento da decisão do Tribunal Regional Federal, que determinou saída dos ocupantes não índios da reserva em 2010.


A disputa pela terra pôs em lados opostos índios xavantes e moradores de uma região do nordeste de Mato Grosso.
O motivo é a posse de uma reserva indígena, ocupada há 46 anos por agricultores e comerciantes.

 A Justiça Federal determinou que eles deixem o local, mas a ordem não foi cumprida. Os confrontos têm causado prejuízos e tensão na reserva.

Os xavantes atacaram fazendas localizadas dentro da área a ser desocupada, onde casas foram demolidas e incendiadas.
Francisco Silva foi surpreendido com a chegada de 60 guerreiros, segundo ele.

"Tocaram fogo nas duas casas que tinha. Queimaram tudo de imediato. Chegaram com a gasolina dizendo ‘tirem os trens que vamos por fogo’. Me atacaram, me amarraram e me carregam por 600 metros nas costas", contou Francisco.

Os xavantes cobram o cumprimento da decisão do Tribunal Regional Federal, que determinou em outubro de 2010 a saída da reserva de todos os ocupantes não índios.

"Se demorar muito, nós vamos invadir outra fazenda. Se sair guerra, é guerra. Nós vamos morrer por causa da terra", afirmou o cacique Damião.

Dom Pedro Casaldáliga vive na região há 40 anos e disse que os xavantes foram retirados da área em 1966. Fotos mostram grupos indígenas embarcando em aviões da FAB, sendo levado para outra aldeia a 400 km do local, mas em 2003 eles decidiram voltar e encontraram a terra toda ocupada.

“É uma verdadeira devastação. Eles foram arrancados da terra e transportados pela FAB. Então, essa deportação foi oficial”, lembrou Dom Pedro

Funai, Incra e Polícia Federal elaboraram um plano para a retirada dos fazendeiros, que ainda vai ser avaliado pela Justiça. A reserva Maraiwatsede se estende pelos municípios de Alto Boa Vista e São Felix do Araguaia, ao nordeste de Mato Grosso e tem 165 mil hectares ocupados por centenas de fazendas e sítios.

Dentro da terra indígena também existe um povoado onde vivem quase três mil pessoas. Pela decisão judicial, todos deverão sair. No vilarejo há escolas, comércio, posto de combustível e silos de armazenagem de grãos.

“Tem uns R$ 10 milhões de investimentos. Beneficiamos mil sacos de arroz por dia”, conta a empresária Delcristiana Moresco.

O empresário Roberto Soares da Silva é dono de um posto de combustíveis e disse ter investido mais de R$ 800 mil. Os moradores não índios mostram as escrituras das áreas registradas até em cartório. "Eu gastei R$ 84 mil. Estou com 68 anos. Vou para onde?”, indagou um morador.

Para o Ministério Público Federal, esses documentos não têm valor. “Já se reconheceu que esta área foi, de fato, invadida. Estão todos cientes de que ali se tratava de uma área indígena", explicou a procuradora da República, Débora Duprat.

O governo de Mato Grosso ofereceu para a Funai um parque estadual preservado para transferir os xavantes e manter os moradores na área. “Nós oferecemos essa área e vamos ajudar a montar a estrutura, como dissemos. Agora, a forma legal, a Funai e o Ministério da Justiça que resolva. Eles que criaram o problema na região", afirmou o governado do Mato Grosso Silva Barbosa...

Mas os xavantes recusaram a oferta e rasgaram a lei que autorizou o governador a negociar a troca da área. O Ministério da Justiça reafirmou que o plano de desocupação está em fase final de elaboração. Depois de pronto, terá de ser apresentado à Justiça Federal.





Fonte: G1 / Jornal Nacional

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...