Menino do Mato - João de Barros
I Eu queria usar palavras de ave para escrever Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação Ali a gente brincava de brincar com palavras, tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra! A Mãe que ouvira a brincadeira falou: Já vem você com suas visões! Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis E nem há pedras de sacristias por aqui. Isso é uma traquinagem de sua imaginação. O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes. O Pai achava que a gente queria desver o mundo Para encontrar nas palavras novas coisas de ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão de uma pedra. Eram novidades que os meninos criavam com suas palavras. [Menino do Mato. Manoel de Barros. Editora LeYa. SP, 2010]