Pular para o conteúdo principal

Coordenador da Funai vai analisar situação das terras índigenas no sul da Bahia

Ana Cristina Oliveira, da sucursal Itabuna



O coordenador geral de Defesa e Direitos Indígenas, da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, Paulo Celso de Oliveira, chega nesta quinta, 02, à região sul da Bahia, para analisar os conflitos entre produtores rurais e índios tupinambás. A demarcação do território tupinambá em 47.376 hectares, que incluiriam as fronteiras agrícolas mais produtivas de Ilhéus, Una e Buerarema, é o principal motivo da disputa entre as lideranças indígenas e os agricultores. O coordenador da Funai também irá investigar denúncias sobre o credenciamento de pessoas não indigenas para receberem os benefícios do órgão.


O agricultor Carlos Guedes Alves possui seis hectares no distrito do Santo Antônio, em Ilhéus, que comprou em 1992, e com a produção de mandioca, cacau e cupuaçu tira o sustento das oito pessoas de sua família. O agricultor relata que foi procurado por representantes de um cacique, que anotou dados de um documento seu para o credenciamento, mas ele nada assinou. Carlos diz que nasceu na região, mas nunca ouviu, nem mesmo por sua avó que conhecia índios, nenhuma referência sobre os tupinambás.


ESCÂNDALO - Para o líder da comissão de agricultores de Ilhéus Luiz Uaquim, o fato é escandaloso, porque são pessoas que se diziam índios e aceitaram ser cadastradas, em troca de vantagens. “Agora elas estão recuando porque perceberam que participaram de uma fraude e isso é um fato inédito no país”, destaca Uaquim. Ele disse que os produtores pensaram em entrar com um processo por falsidade ideológica, mas foram informados de que não caberia uma denúncia no Ministério Público, porque no Brasil, qualquer pessoa pode se declarar índio sem ser contestada.


O produtor disse que não tem números oficiais, mas calcula que cerca de 150 pessoas, dos três municípios, já teriam pedido para retirar seus nomes do levantamento do número de tupinambás na região. Uaquim diz que esses fatos vão ser inseridos na contestação ao relatório de demarcação da Funai, que está em fase de análise dos estudos históricos e antropológicos. O prazo de entrega é 18 de agosto, mas os produtores pretendem que fique pronta até o final deste mês, para que a comissão requeira à Funai, em Brasília, a nulidade do processo de demarcação das terras tupinambás.


SURPRESA - O chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena e coordenador substituto na regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Salvador, Jorge Araújo, afirmou que a instituição tem cadastrados cerca de 5 mil índios tupinambás e, desses, mais ou menos 40 solicitaram descredenciamento.


Os documentos estão arquivados na Funasa de Ilhéus e Salvador. Jorge adiantou que as próximas solicitações vão ser encaminhadas à Funai, em Ilhéus, para que ela se manifeste, já que homologou o credenciamento desse pessoal.


Jorge Araújo disse que a Funasa tem um cadastro para dar assistência de saúde, mas o processo começa com o cacique, que faz uma ficha de cada pessoa, a Fundação Nacional do Índio (Funai) homologa e manda os documentos para a Funasa cadastrar no Sistema de Informação de Atendimento à Saúde (Siasi). Ele admitiu que o recuo do pessoal que antes havia se cadastrado como índio é um fato novo, que o pegou de surpresa.”Nós vamos encaminhar esses documentos para que a Funai, em Brasília, tome as providências, porque as pessoas fizeram declarações falsas e ocuparam um espaço que não tinham direito no grupo indígena”, afirma.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...