Pular para o conteúdo principal

Sobre a Leitura e outras Drogas

Estive fora de Lorena nos últimos 15 dias participando de eventos literários no Rio e em São Paulo. No Rio coordenei o 6o. Encontro de Escritores e Artistas Indígenas. Foi um sucesso colossal. Éramos 33 pessoas oriundos de todos os cantos do Brasil para celebrar o livro e a leitura. O tema deste ano foi "A Oralidade e as novas tecnologias da Memória".. Quem quiser detalhes pode acessar o blog do nearin citado aqui nesta página. Em São Paulo não foi bem um evento literário, mas como sou adepto da literatura não pude deixar de considerá-lo dessa maneira.
---------------------------------
Eventos literários são sempre momentos preciosos e valiosos para quem gosta da escrita e da leitura. Eles costumam me deixar eufórico como se tivesse ingerido algum tipo de droga. Livros viciam. A leitura vicia. Muitas vezes – ou sempre – no conduz para outros mundos aos quais não estamos acostumados a ir. Não raras vezes nos desnorteia e nos coloca sob impressões vastas que arrancam nossos pés do chão.
Ler é uma droga. Vicia. Divaga. Delira. Corrompe. Dá coragem. Destrói medos.
Há pessoas viciadas em um monte de coisas e em todas elas os sentimentos são sempre os mesmos. Todas compartilham a mesma certeza: somos invencíveis, somos imortais. É que tais vícios vêm acompanhados de uma dose de prazer sem igual dando esta sensação de abandono e união com o cosmos.
-----------------------------------
Na minha infância não gostava de ler. Não havia sido apresentado para o mundo da leitura dos livros. Lia apenas o mundo que estava a minha volta. Era meu vicio aquele. Gostava de ficar horas observando o rio seguir seu curso imaginando os mundos que ele conhecia e que trazia para mim nas histórias que meus avós contavam. Só muito depois é que conheci os livros e os mundos que eles continham e que estavam na cabeça de quem os escrevia. Descobri que minha cabeça era também habitada por muitos mundos. Fiz deles minha droga. E li tudo o que pude. E criei outros tantos mundos para as pessoas delirarem.
====================================
Esta semana esta acontecendo a FLIP, Festa Literária de Parati. Evento que já entrou para o calendário cultural do Brasil. Estive lá algumas vezes como convidado. Um paraíso para os devotados a droga da leitura em todos os estilos: prosa, poesia, ficção, infanto-juvenil, entre outros. Paraty é logo ali. É uma experiência inesquecível.
-----------------------------------------
Aqui em Lorena teremos a posse dos acadêmicos da recém criada Academia de Letras de Lorena. Será em agosto. Uma rica oportunidade para quem deseja conhecer melhor a vida literária da nossa cidade. Pode não parecer, mas aqui também há viciados em literatura. Eventos literários acontecem o tempo todo. Saraus literários costumam acontecer nas casas das pessoas de bom gosto. Infelizmente ficam restritos a alguns poucos contemplados. O ideal é popularizar. Taí uma droga que gostaria que fosse consumida por todo mundo!
Tenho dito.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...