DIA DO ÍNDIO?
Embora a data já tenha passado, acho que vale a pena compartilhar com vocês o importante texto do professor, filósofo e pedagogo Ely Macuxi que reflete sobre esta efeméride escolar no contexto de sua militância no movimento indígena.
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Hoje é
“Dia do Índio”,
Hoje é “Dia do Índio”, contrariando a
música que diz que “todo dia era dia de índio”, convencionou-se essa data para
destacar que “Nós Existimos”, lembrando a campanha realizada pelo Conselho
Indígena de Roraima (CIR), contra as agressões físicas, psicológicas e
culturais que os índios foram vítimas em suas terras, minimizado com a
homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, em 2005 e
confirmada em 2019 - que perdurou mais de três décadas, com 21 vítimas dos
Povos Indígenas Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Taurepang e Patamona - Hoje é dia também saudá-los - heróis, guerreiros, memorias que inspiram e
motivam a continuar acreditando que nossa luta por autodeterminação, continua...
Ao longo de 517 anos de histórias mal
contadas no Brasil, as perseguição e mortes em nossos territórios, nunca nos
levaram a desistir, sempre lutamos, fizemos levantes, invadimos, agora ocupamos
e formamos espaços de resistências contra nossos agressores na aldeia e na
cidade. A negação e recuo dos direitos fundamentais de proteção a vida indígena
orquestrada pelo atual governo brasileiro exige uma tomada de posição de toda
sociedade brasileira, aliando-se a causa indígena na luta, na defesa de direitos
fundamentais: pelo direito a ser Povo, nacionalidades, ricas experiência de
sociedades, diversidades que ao longo de toda história tem contribuindo para o
desenvolvimento do país, demostrando a viabilidade de suas riquezas culturais,
formas de produção e proteção ambiental; compondo um cenário de possibilidade
pelo trabalho, gastronomia, arte e cultura geral do Brasil.
Hoje não quis colocar pena na cabeça,
muitos menos pintar a cara com tinta de urucum, os braços e pernas com tinta de
jenipapo como muitas vezes tive que fazer para alegrar os ingleses e incautos...
Assim, como fazem com as crianças nas escolas colocando cocares de papel ou de
pena de galinha, pintando-as com tinta guache numa maneira alegórica e
caricatural de referência a cultura indígena. Ainda fazem os alunos a cantarem:
“Índio, fazer barulho...”. Lamentável,
tantos conhecimentos e aprendizados desperdiçados. Mas, já houve muita gente que comparou a
escola a um “picadeiro de representações e apresentações trágicas”, embora
continue acreditando em sua viabilidade para formação integral, preparação para
o trabalho, aptidões científicas...
Bem, mas hoje é “Dia de índio” e devo
pensar a “Escola” em nossas Malocas. Pensar como está sendo desenvolvida a
escolarização de nossas crianças, de nossos futuros guerreiros, cidadãos
indígenas. Podemos antecipar em linhas gerais, que num quadro de comparação, o
resultado da escolarização ofertada aos povos indígenas não se difere do ensino
das escolas públicas dos não indígenas. Falta prédio escolares, falta professor
com formação, material didático, acompanhamento técnico pedagógico, falta
merenda escolar em quantidade e qualidade, professores ministrando aulas fora
de sua área de conhecimento, projeto político pedagógico aliado a realidade do
povo... Bem, falta muita coisa, mesmo... Embora, tenha muita gente que acredita
que ela é indígena e está ao encontro de seus interesses, por que, geralmente,
são ornamentadas com tessumes, enfeites, pinturas e objetos da cultura material
indígena. “Tem índio? Então, pode bater foto!”...
Todo mundo sabe que a escola em
contexto indígena é tão antiga quanto a colonização do Brasil. Ou seja, o
processo civilizatório - dominação, expropriação dos territórios e da cultura
indígena passou também através da escola e da igreja – Por força dos contatos
assimétrico entre o invasores europeus e povos indígenas, ontem e hoje, a
escola continua sendo símbolo da dominação e da integração.
Esse processo já perduram 517 anos ou
mais, a colonização ocasionou o desaparecimento total de povos, mudou hábitos e
comportamentos, impondo novas territorialidades, eliminando as diferenças
culturais, sobreposição de raças e etnias... Posteriormente, o Estado Nacional,
agora brasileiro, de forma aberta e oportuna - sob a égida do tutelamento
desenvolve ações direcionadas para o integração, sutilmente ou descaradamente, através
de programas economicistas, políticas descontinuas de assistencialismo, modificando
seus hábitos tradicionais; inaugurando, dessa forma, novos tempos, novas mentalidade,
novos projetos societários no contexto das aldeias.
Se isso é uma realidade na história da
educação escolar no Brasil, neste “Dia de Índio” - nós educadores indígenas
devemos nos perguntar: por que continuamos abraçando esse projeto de escolarização
diferenciada como o propósito de gerar autonomia a nossos povos, sabendo que
ela tem atuado para alienar e ocidentalizar as culturas tradicionais, impondo
sutilmente modelos estranho a mudo de viver indígena?
Quais são os limites de sua
operacionalização frente as possibilidades apontadas e exigidas pelo Movimento
Indígena Organizado, por uma educação escolar de qualidade, que prepare os alunos
para o diálogo intercultural, formação de lideranças, formação de professores
com capacidade de se apropriar e realizar leituras dos códigos ocidentais e
promover diálogos interculturais, desenvolvendo a capacidade analítica, críticas
de referenciais estranho a cultura tradicional? Uma escola, cujo o projeto
pedagógico, ajudasse a promover e afirmar as tradições; ajudasse a organizar
para manter os territórios e populações; desenvolver alternativas de
sustentabilidade, autonomia?
Por que, apesar dos quase 30 anos de
sua implantação no Brasil, o Programa de Educação Escolar Indígena não produziu
dados reais, estudos e análises sobre os cursos de formação inicial e
continuada de professores e técnicos indígenas, produção e distribuição do
material didático e pedagógico, construção e reformas das escolas indígenas,
quantidade e distribuição da merenda escolar, transporte escolar, assessoria
antropológica e linguísticas Como
podemos realizar uma profunda analise de que essa escola, concebida com
diferenciada e intercultural tem atuado a serviço de modelos integrador? E os
“Territórios Etnoeducacionais? Alguém sabe dizer, quantos milhões foram
repassados ao governo do Amazonas para Educação Escolar Indígena? Nesse
contexto de perseguição e negação de direitos é melhor parar de perguntar...
Sendo a escola o espelho dos ideários
civilizatórios nas aldeias indígenas, quais os mecanismos que ela tem usado
para acomodar suas intenções, ceifando os ideários de uma pedagogia da
autonomia, como tanto pregava um branco que tinha mentalidade de índio, chamado
de Paulo Freire?
Frente aos ideários globais, mercados
e tecnologias, os indígenas, sobretudo os que tem contato permanente com os
contextos urbanos e seus mediadores, por que essa proposta de educação escolar
não atrai mais os pais, alunos e professores indígenas? Em contextos
multiculturais e urbanizados, qual é a escola que temos e qual a escolar que
queremos?
Os Cursos Superiores – promovidos
pelas Universidades Públicas – nas suas ações pedagógicas, tem levados aos
alunos e pesquisadores indígenas um ensino diferenciado, que contemple a
diversidade, o tempo de contato, seus territórios, línguas diferenciadas, numa
proposta pedagógica de aproximação dialógica entre os conhecimentos ocidentais
e conhecimentos indígenas? Pensando nas diferenças culturais dos povos, seus
conhecimentos, referencias epistemológicas, classificações e ciências, esses
cursos estão preparados, abertos para absorver esse pluralismo, criatividade da
diferença cultural?
São questões para pensar no “Dia do Índio”.
obrigada pelo conteúdo de qualidade, vou aplicar no colegio objetivo zona norte SP
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