O objetivo desta tese de doutoramento é investigar a construção da
identidade do índio pela perspectiva ocidental (de tradição européia) e pela perspectiva
indígena, nas literaturas brasileira e norte-americana. Assim, estudamos textos
produzidos no Brasil e nos Estados Unidos da América por escritores vinculados à
tradição literária ocidental, do período colonial ao século XX, e pelo próprio índio, nas
contra-narrativas do final do século XX. Ao longo de cinco séculos de dominação da
América, o colonizador europeu construiu uma representação etnocêntrica do índio
que ainda hoje preenche o imaginário ocidental. Lido e traduzido pelo olhar do outro,
o ameríndio tem sua identidade elaborada a partir de eixos de representação europeus e
de estereótipos. No entanto, o índio não ficou silencioso desde seu encontro com o
colonizador; sua voz de resistência tem se manifestado há séculos por meio de
multimodalidades discursivas que também constroem representações da identidade
indígena.
A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...
Comentários
Postar um comentário