O objetivo desta tese de doutoramento é investigar a construção da
identidade do índio pela perspectiva ocidental (de tradição européia) e pela perspectiva
indígena, nas literaturas brasileira e norte-americana. Assim, estudamos textos
produzidos no Brasil e nos Estados Unidos da América por escritores vinculados à
tradição literária ocidental, do período colonial ao século XX, e pelo próprio índio, nas
contra-narrativas do final do século XX. Ao longo de cinco séculos de dominação da
América, o colonizador europeu construiu uma representação etnocêntrica do índio
que ainda hoje preenche o imaginário ocidental. Lido e traduzido pelo olhar do outro,
o ameríndio tem sua identidade elaborada a partir de eixos de representação europeus e
de estereótipos. No entanto, o índio não ficou silencioso desde seu encontro com o
colonizador; sua voz de resistência tem se manifestado há séculos por meio de
multimodalidades discursivas que também constroem representações da identidade
indígena.
MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...
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