Olivio Jekupé
Por isso essas palavras estão chegando também nas aldeias indígenas. Sei que nosso povo indígena tem muito a contribuir com isso, porque se formos falar a verdade, não somos os causadores desse aquecimento global, não somos os inventores dessas grandes máquinas poluidoras, não somos nós os destruidores da floresta, não somos nós que poluímos os rios com venenos, mas nem por isso devemos ficar de fora desse acontecimento. Temos que educar nossos filhos a continuarem amando nossa mãe terra, e tudo o que nela existe, porque ela nos dá tudo e continuaremos precisando dela sempre. Sendo assim, um bom filho tem que continuar amando sua mãe, e a mãe continuará amando seus filhos.
Por isso cabe a nós índios, seja guarani ou de outro povo, nós que moramos nas aldeias, devemos continuar amando nossa mãe natureza e ao mesmo tempo continuar ensinando nossos filhos a seguirem o mesmo caminho, pois um povo que não ama a mãe natureza, tem o poder de destruí-la, por isso, é importante que nunca devemos deixar que isso aconteça. E a missão de um pai indígena é de grande valor, de grande responsabilidade, de dar continuidade na cultura da preservação da floresta, dos rios e tantas outras coisas mais.
Mas sei que muitos às vezes sentem vergonha de ser índio e queriam viver como o povo da cidade, andar bem vestido, ter seu carro e outras coisas mais. Mas uma coisa eu digo, feliz do índio, que não tem vergonha de ser quem é, mesmo não tendo estudado, nem tendo tanto dinheiro, nem sendo uma pessoa de reconhecimento na mídia, mas que vive feliz no seu mundo, ao lado do seu povo e da mãe natureza que lhe dá tudo.
Mas nem por ver que o mundo sofre por tantas coisas, eu nunca desisti de acreditar nos seres humanos. Acredito que no futuro, meus filhos, meus netos (os seus também) poderão ter uma vida melhor, vejo que muitos das grandes cidades também estão começando a valorizar muito mais a mãe natureza, nas escolas se comenta muito sobre o problema do aquecimento global, nas televisões e nas revistas. E por isso acredito que a sociedade está vendo o que poderá acontecer num futuro bem próximo. E como muitos estão assustados com isso, vejo que as crianças irão aprender a amar a mãe natureza com mais carinho, e é através deles que acredito que poderemos ter um mundo melhor, para nós índios, negros, asiáticos. Enfim a todos.
ESCRITOR E POETA e membro do NEARIN— LIVROS: 500 anos de angustia, Iarandu o cão fanlante, Xereko arandu a morte de kretã, Verá o contador de história, Arandu Ymanguare, O saci verdadeiro, Ajuda do saci, Indiografie publicado na Itália, Tekoa conhecendo uma aldeia indigena, A mulher que virou urutau. www.oliviojekupe.blogspot.com www.ocadasletras.com.br |
MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...
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