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Índios Guarani Kaiowá e Terena prometem denunciar Funai à OEA e ONU por omissão


Helio de Freitas, de Dourados


Ademir Almeida/Diário MS
Vestidos de morte, índios protestam em Dourados contra violência em aldeias; eles acusam Funai de barrar a polícia
Índios guarani-kaiowá e terena da reserva de Dourados prometem denunciar a Funai e o governo brasileiro por omissão à OEA (Organização dos Estados Americanos) e à ONU (Organização das Nações Unidas).

O assistente social Kenedy de Souza Morais disse ao Campo Grande News que a comunidade indígena está produzindo um vídeo com imagens e informações sobre os assassinatos, estupros, roubos e outros crimes ocorridos nas aldeias Bororó e Jaguapiru. O objetivo, segundo ele, é chamar a atenção da comunidade internacional para o “extermínio” dos índios.

“Quem sabe, com a pressão dos órgãos internacionais, o governo e a Funai tomem alguma providência. A Funai tenta manter uma aparente tutela sobre os povos indígenas e por isso barra a entrada da segurança pública nas aldeias. Vamos mandar um relatório para a OEA e para a ONU denunciando os assassinatos, mostrando relatos de pais e mães que perderam seus filhos”, afirmou.

O assistente social fez parte do protesto realizado nesta sexta-feira para cobrar da Funai mais segurança nas aldeias. Vestido com uma fantasia de morte, Kenedy Morais discursou durante o ato público em frente à Funai e acusou a administradora regional do órgão, Margarida Nicoletti, de vetar a entrada da polícia nas aldeias, permitindo que a comunidade indígena fique exposta à criminalidade.

Margarida Nicoletti também discursou e negou que tenha barrado a entrada da polícia nas aldeias. Ela mostrou cópias de ofícios que teriam sido enviados aos órgãos de segurança pública solicitando a presença da polícia nas aldeias. “Não tem como a Funai fazer a segurança nas aldeias, mas nunca negamos segurança aos índios. Já autorizamos por escrito [a entrada da polícia], mas não cabe à Funai determinar que a polícia faça segurança aos índios”, afirmou.

Violência – Com cerca de 12 mil habitantes, a reserva de Dourados enfrenta uma onda de violência e criminalidade. A área, de 3.600 hectares e cortada por dezenas de estradas vicinais, tem pontos de venda de bebidas alcoólicas e de drogas, prostituição e virou esconderijo para produtos roubados na cidade. Nos últimos meses, os moradores se depararam com aumento do número de assassinatos com extrema violência. Corpos retalhados a golpes de facão são encontrados com frequência nas estradas vicinais.

Levantamento do MPF (Ministério Público Federal) mostra que o índice de homicídios nas aldeias de Dourados é 495% maior que a média dos últimos 12 meses no país. O índice de assassinatos nas aldeias Bororó e Jaguapiru é de 145 mortes para cada 100 mil habitantes. Já o índice de homicídios no país é de 24,5 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.

O procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida afirma que o índice de homicídios entre os índios de Dourados supera até mesmo o índice de assassinatos do Iraque, que tem índice de 93 homicídios para cada grupo de cem mil habitantes.

Campo Grande News

Comentários

  1. Daniel, não posso comentar mais que a minha alegria por encontrar teu blog, neste sábado tão ensolarado, eu aqui na minha casa, no interior de SP, numa beira de mata explodindo de cigarras.
    A salvação do Brasil e mesmo do Ocidente, depende da orientação das culturas indígenas deste território.
    É um prazer enorme entrar em contato com o teu trabalho. Um sopro nos meus pulmões reclusos.
    Fico aberto ao contato de vocês, escritores indígenas, para o que for possível ajudar para a divulgação de seu trabalho aqui na região de SP. Estou para publicar um livro pela Ateliê Editorial, de SP, do bom editor Plínio Martins, presidente da Edusp. É o cara.
    Abraço enorme. Vai aí o meu blog, com o mesmo título do livro que está para sair, e que conta um pouco do final da trajetória dos caingangue de SP.
    Receba o abraço deste branco, irmão na terra.

    Edu

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