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Centro amazônico preserva memória do povo Wajãpi

Casa abrigará documentos, fotos, filmes e DVDs sobre etnia composta por 900 indígenas

RAFAEL SECUNHO (*)
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MACAPÁ, AP – Uma casa para preservar a memória dos índios Wajãpi. Com esse propósito, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Ministério da Cultura inauguraram o Centro de Formação e Documentação Wajãpi, no posto Aramirã, entre os municípios de Pedra Branca do Amapari e Laranjal do Jarí, no Estado do Amapá. Erguida em plena Terra Indígena dos Wajãpi, a casa irá abrigar fotografias, filmes, DVDs e documentos sobre essa etnia, que é composta por cerca de 900 indígenas que habitam a região oeste do Amapá.

O centro é mais uma unidade do Pontão de Cultura Arte e Vida dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará, mantida pelo Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena – Iepé e pelo Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina. A outra unidade fica na capital Macapá.

O ato contou com a presença do presidente da Funai, Márcio Meira, da coordenadora de Salvaguarda do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Teresa Chaves, e da superintendente do Iphan no Pará e Amapá, Dorotéa Lima.

Cursos, oficinas e reuniões

O novo centro também será um espaço para oficinas, cursos e reuniões. Para isso, contará com salas de pesquisa e um local próprio para os encontros. Além disso, terá à disposição alojamentos para os Wajãpi residentes em outras aldeias e consultores atuando no processo de formação de professores e pesquisadores indígenas. A concepção do local teve o patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Rouanet, e os equipamentos foram adquiridos com apoio do Iphan, da Unesco no Brasil e da Embaixada da Austrália.

indiospintura060909a A responsabilidade pela manutenção e uso do CFDW será dos pesquisadores Wajãpi e dos membros da diretoria do Apina. Pretende-se também reproduzir documentos e registros audiovisuais dos Wajãpi e a sua distribuição para as aldeias. Com isso, mantém-se vivo o interesse dos jovens indígenas por sua cultura e também os prepara para transmitir conhecimentos sobre as práticas locais. No centro, os Wajãpi terão acesso ainda aos resultados das pesquisas realizadas junto ao grupo e a documentos sobre outros povos indígenas do Brasil e do mundo.

Patrimônio da humanidade

Os Wajãpi ocupam basicamente regiões do Pará, Amapá e da Guiana Francesa. Possuem uma vida cerimonial intensa, marcada por grandes ciclos de rituais como a festa do milho, promovida no inverno, a festa do mel e as danças dos peixes. A arte gráfica do Wajãpi do Amapá foi reconhecida inclusive como patrimônio da humanidade pela Unesco e registrada como bem imaterial pelo Iphan em 2002.

A linguagem gráfica destes indígenas é denominada kusiwa e sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. Servem como uma forma de comunicação e interação entre eles e estão presentes nos corpos e também em artesanatos e cestaria.

As marcas são feitas utilizando sementes de urucum, gordura de macaco, suco de jenipapo verde e resinas perfumadas e representam animais, entre os quais, cobras, pássaros, borboletas ou objetos - a lima de ferro por exemplo. A pintura corporal é uma atividade do cotidiano, no âmbito familiar. Os homens são pintados pelas esposas e vice-versa.

(*) Da Assessoria de Imprensa do Iphan.

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