APENAS FILHOS
Por ocasião do dia da nossa "Mãe Preta" lembrei deste texto que escrevi e que faz parte da série "Das Coisas que Aprendi". Boa leitura!
APENAS FILHOS
Aprendi com os parentes que somos
filhos da terra. Ser filho é ter uma atitude cuidadosa com a mãe que nos enche
de dádivas e alegrias. Nos dá o alimento que faz o corpo se nutrir com sua
energia cósmica. Nos dá o remédio que cura o corpo das enfermidades que o
assola quando quebra a harmonia reinante. Nos dá o aroma que perfuma nosso dia
a dia. Nos brinda com o nascer e o por do sol, espetáculos que embriagam os
olhos.
A mãe não esquece uma única
necessidade nossa e nos preenche com seus círculos de saberes. Nada escapa ao
seu brio maternal que não abre mão de ensinar, punir, maravilhar, entristecer,
alegrar, alimentar, enaltecer. Tudo é dado de graça e só exige que sejamos
agradecidos e harmonizados com o universo.
O que é mais surpreendente é que a
gente não precisa ter consciência disso. Assim como a Terra-Mãe se dá
gratuitamente, nós também não precisamos ficar escravos de nada. Temos apenas
que viver as dádivas como partes de nosso processo pessoal. A consciência nos
obriga a criar conceituações a respeito do ser. E o ser é.
Somos apenas filhos. Filhos não
precisam justificar sua filiação aos pais. Ou se é filho ou não se é filho.
Ponto final. Com a Mãe Terra é também assim. Somos filhos, apenas filhos. Ser
filho significa ter um elo de ligação que prende como uma linha invisível com a
qual se amarram as dádivas e graças. Basta isso.
Ainda criança meu pai me ensinou a
conversar com a madeira. Ele era carpinteiro dos bons. Um maestro que sabia
conduzir pregos e parafusos para seus lugares certos. O resultado era um
conjunto de móveis bonitos que decoravam apartamentos e casas de diferentes
lugares. Ele me ensinou a martelar o prego sem medo de machucar os dedos. Tinha
o jeito certo de segurar o martelo e conduzi-lo à cabeça do prego. Era algo
harmonioso. Ele dizia que a pessoa que segura a ferramenta tem que se sentir
parte dela. Ele era bom nisso. Muitas vezes eu o observei absorto na sua tarefa
artesã medindo cada milímetro da madeira para não haver erros. “A pessoa não
compra um objeto apenas pela beleza externa. Ela sente a energia de quem o
confeccionou”, ele dizia sem pestanejar.
Tudo isso era para me mostrar que o
ofício bem praticado não nos torna ricos de bens materiais, mas é uma maneira
de retornar à Mãe de Todos os talentos que ela nos proporcionou. Saber ser um
bom profissional, um estudante aplicado, um esposo ou esposa dedicada, um filho
ou filha consciente é uma maneira simples de nos colocarmos no coração da
deusa-mãe. O importante é não esquecer nunca que somos apenas filhos de uma mãe
dadivosa.
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