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Mostrando postagens de novembro, 2015

DANIEL MUNDURUKU EM BELO HORIZONTE

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Registro de minha passagem por Belo Horizonte nestes dias 26 e 27 de novembro, Primeira visita foi no Colégio Loyola. Ali rolou uma interessante conversa com os estudantes do 5o. Ano sobre o livro O HOMEM QUE ROUBAVA HORAS. Muito bom!

O QUE SOU SÓ SERVE PARA MIM.

[ Mais um texto da série "Crônicas a Granel"] O QUE SOU SÓ SERVE PARA MIM. [À Cristino Wapichana] Minha vida é um poema que escrevo a cada dia. Seus versos, sua métrica, seus sentidos, significados e significantes são palavras que componho a cada nova ação, a cada nova atitude, a sempre nova escolha que faço. É assim que penso a biografia de cada pessoa. Entendo que cada um escreve, compõe seu verso único em sintonia consigo mesmo, com seus amores, com suas dores. A vida dos outros não é para ser seguida. Biografias não são para serem imitadas. Menos ainda interpretadas. Olho para cada pessoa como um poema único. Poema é para ser lido, não para ser interpretado. Acho que interpretar poema é a coisa mais sórdida que alguém pode fazer, na escola ou na vida.

EM NOITES SEM LUA, HISTÓRIAS DE TERROR.

EM NOITE SEM LUA, HISTÓRIAS DE TERROR As férias escolares no meu tempo de estudante eram bem diferentes das de hoje em dia. O ano escolar acontecia de março a novembro. Nos meses de férias eu ia para a aldeia. Lá eu esquecia da escola, de seus professores, exames e provas e também de suas tarefas. Esquecia também dos colegas chatos, dos apelidos que eu recebia e das provocações que me dirigiam. A aldeia era algo sensacional para um menino-quase-homem. Lá eu revivia muitos momentos gostosos, reaprendia costumes, palavras, gestos. Retomava a culinária composta por muita mandioca e seus derivados, peixes diversos, carnes de caça, cará, batata doce, inhame e frutas em geral. Também ouvia as histórias dos adultos e dos velhos. Corria no mato e nadava nos rios. Estas são lembranças muito felizes para mim!

Daniel Munduruku em Belo Horizonte.

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Daniel Munduruku em Uberlândia

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Registro de minha passagem por Uberlândia. Imagens de minha conversa com estudantes durante encontro literário. Gostoso bate papo sobre literatura indígena; Estamos em movimento para fazer com que o Brasil conheça e reconheça a literatura que estamos produzindo e que é construída a partir de um pensamento ancestral; Vamos em frente;

Daniel Munduruku na Universidade Federal de Uberlândia - UFU

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Na noite do dia 19 de novembro tive uma gostosa conversa com o público acadêmico da Universidade Federal de Uberlândia. Foi muito especial pela qualidade da plateia e da interação que aconteceu. Apresentei o pensamento que tenho desenvolvido ao longo dos meus 20 anos de atividade literária e social. Muito bom.

BOSTA DE ANTA

Apesar de todo meu esforço eu não conseguia acompanhar os estudos. Não conseguia entender muito bem as coisas que meus professores ensinavam ou queriam ensinar. Para piorar tudo eu levava uma porção de tarefas para casa a fim de treinar, treinar e treinar. Diziam os professores que era a única maneira de aprender: decorar as fórmulas, os lugares, os verbos, as métricas. Isso me aborrecia porque me faziam sentir um burro incapaz de aprender o que todo mundo aprendia com rapidez. Meus pais tentavam me ajudar, mas o que eles poderiam fazer? Nada ou quase nada a não ser me obrigar a treinar, treinar e treinar. Minhas brincadeiras ficavam prejudicadas por causa dessa dificuldade, minhas invenções e jogos paravam; as arapucas não podiam ser observadas para ver se tinham pego alguma sururina. Eu até me sentia culpado porque sabia que minha caça estava a mercê de uma cobra qualquer e sem poder se defender a coitada. Meus irmãos estudavam em outras escolas e também não podiam me ajudar...

PROFESSORA DE PORTUGUÊS

Quando eu entrei na escola meu mundo se dividiu. Antes eu tinha o tempo todo para mim: brincava, corria, nadava no igarapé, subia nas árvores, ia para a roça acompanhar minha mãe, ouvia histórias dos avós, cuidava de minha cutia de estimação. Enfim, o dia não acabava nunca! Quando minha mãe inventou de me colocar na tal escola da cidade para que eu crescesse sabendo mais coisas que ela, o tempo tomou outra dimensão. Na verdade não foi minha mãe que insistiu com a escola, soube disso depois, mas o governo havia criado uma lei que dizia que todas as crianças – inclusive as que moravam nas aldeias – deviam ser matriculadas e frequentar a escola. Era uma condição que não cabia nem questionar naquele tempo. Acostumado a andar pelado pela aldeia, me agoniou usar uma farda e um sapato apertados. Era o início de uma prisão que meu corpo iria ter que se adaptar. Não adiantou reclamar, bater o pé, me esconder na floresta ou fazer birra. A decisão de ir para a escola estava tomada e a esco...