Acordei com saudade de casa. Não com é saudade de gente, mas
de lugar. Saudade do cheiro da chuva das três horas. Saudade do calor
ventilado. Saudade do canto das araras voando sobre as mangueiras recheadas de
magia.
Senti saudade do Theatro da Paz e da praça Batista Campos, um
oásis de minha infância. Saudade do açaí com pirarucu na tigela. Do tacacá ao
meio dia. Saudade de ver-o-peso e ver as belezas naturais. Saudade do boto e do
peixe-boi.
Fechei os olhos e me vi lá banhando nos igarapés de minha
criancice; subindo nas árvores gigantes, meu orgulho. Fui até meu maracanã,
aldeia de outrora, para encontrar-me com os meus amigos invisíveis que
habitavam o lugar. Banhei na chuva fina. Me lambuzei na lama. Corri no mato
empunhando arco, flechas e sonhos.
Hoje acordei com saudade de casa. Me deu vontade de cantar
para o uirapuru, imitar a Yara, gargalhar como o Curupira e encantar como o
boto. Senti ausência do saber sagrado. Do silêncio do silêncio. Do farfalhar
miúdo das folhas amazônicas. Das cantigas de rodas, do bumba-meu-boi, das
quadrilhas juninas. Ausentou-se em mim o som dos tambores dos terreiros onde
cresci, da estranha magia dos pais de santos.
Saudade de ver meu rio Pará, singrar suas águas, contemplar
seu pôr-do-sol. Saudade de água em profusão, pororoca, piracema. Saudade de
casa.
Ela parece me chamar. Não posso ficar surdo. Não vou.
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