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Mostrando postagens de 2007

Boneca de Papel

Theresa sorriu toda contente quando tomou nas mãos sua mais nova aquisição: uma boneca toda feita de papel. Não era uma boneca comum, pois carregava em si todo um ano de esforço e dedicação que a sobrecarregara de obrigações e compromissos para que pudesse conquistar aquele cobiçado objeto. Por isso ela o apertava junto ao peito e afagava com muito carinho. O ano não havia sido fácil. As muitas atividades que tinha de exercer para poder ajudar em casa tomava-lhe muito tempo. Por isso também não podia ir à escola tendo que se contentar em aprender as primeiras letras com o padre durante as aulas de catequese. E isso não era muito fácil porque dobravam suas obrigações. Theresa tinha que decorar as palavras do padre e depois aprender as letras que formavam as palavras. Decorar não era problema. Tinha boa cabeça, como sua mãe às vezes lhe dizia. O problema era o raio das letras! Que confusão elas criavam em sua cabeça! Como fazer para aprender as palavras da Ave Maria escritas em latim? Re

Socióloga divulgará Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas em aldeias

A socióloga Kring Kaingang vai divulgar nas aldeias brasileiras a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Kring é representante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e integra a Coordenação Geral de Defesa dos Direitos Indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai). Ela foi a única indígena brasileira que participou das discussões sobre a declaração, documento que levou 20 anos para ser concluído. Em entrevista ao programa Amazônia Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia, Kring Kaingang apontou a questão territorial como o tema mais polêmico entre os indígenas e o governo brasileiro. Segundo a socióloga, desde os governos militares, as autoridades federais consideram apenas os direitos individuais dos indígenas, como educação e saúde, mas negam o direito coletivo ao território, argumentando que o território pertence à nação, e não às comunidades. "Pela primeira vez, temos um instrumento internacional de direitos hum

Índios Enawanê-Nawê libertam 350 trabalhadores mantidos reféns no Mato Grosso

Os cerca de 350 funcionários que trabalhavam nas obras de três pequenas centrais hidrelétricas em construção no Rio Juruena, em Sapezal (MT), foram liberados no final da tarde de terça-feira (11). Eles estavam detidos pelos índios da etnia Enawanê-Nawê desde sexta-feira (07). Segundo o superintendente de Assuntos Indígenas do Estado do Mato Grosso, Rômulo Vandoni Filho, que participou das negociações, será formado um grupo de trabalho constituído pelo governo do Mato Grosso, Ministério Público Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Universidade Federal do Mato Grosso para realizarem outros estudos de impacto ambiental na região. Logo que a equipe de trabalho for formada, disse Vandoni, haverá uma reunião com os índios no município de Juína, para acabar com todas as dúvidas possíveis. O encontro, segundo ele, deve ocorrer ainda este ano. Para o superintendente, a principal dificuldade nas negociações é o fato de os índios exigirem a paralisação da obra. “É legítimo o interesse de

Presidente da Funai critica desmatamento e atribui preservação da Amazônia aos índios

O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, disse nesta terça-feira (11), que os povos indígenas de Rondônia são responsáveis pela preservação da floresta Amazônica no estado. “Esses povos têm preservado as florestas que ainda restam em Rondônia. Viajamos de helicóptero e observamos que só tem floresta em pé nas terras indígenas”, disse em entrevista à imprensa no município de Cacoal (RO), após a libertação dos cinco reféns detidos pelos índios cinta larga desde sábado (8), na Terra Indígena Roosevelt, no sul do estado. Em relação à regulamentação da mineração nas terras indígenas, Meira disse que espera do Congresso Nacional uma decisão que leve em conta a discussão da Funai com os indígenas, que exigem também a participação nos lucros e a preservação do meio ambiente . “Esperamos que a decisão beneficie e respeite os direitos constitucionais dos povos indígenas.” A Constituição proíbe a mineração em terra indígena, mas de acordo com a Polícia Federal (PF), a ext

Sala de Leitura Daniel Munduruku

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Queridos amigos e amigas, hoje, dia 07 de dezembro, recebi uma honrosa homenagem de uma escola do Municipio do Rio de Janeiro. A Escola Escritora Clarice Lispector resolveu chamar Daniel Munduruku à sua sala de Leitura. Estive no local e participei da inauguração. Não preciso dizer como foi enorme minha emoção. Deixo a imagem que fala por mil palavras.

Benki Pianko e os saberes da floresta

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Líder dos ashaninka, que nos últimos 15 anos se tornaram conhecidos no Brasil e no exterior por seu modelo exemplar de desenvolvimento sustentável, Benki Piyãko decidiu fazer da educação a principal arma na defesa do meio ambiente e dos saberes da floresta. A decisão de Benki e das demais lideranças do povo ashaninka, que vive em um amplo território localizado na fronteira entre o Brasil e o Peru, culminou com a inauguração, em julho passado, do Centro de Formação Aiyoreka Ãntame, que pretende unir os saberes indígenas ancestrais e o conhecimento científico da civilização ocidental no esforço para salvar o homem e o planeta. A Escola Aiyoreka Ãntame, cujo nome significa, justamente, Saberes da Floresta, está localizada no município de Marechal Thaumaturgo, na confluência dos rios Amônia e Juruá. Com as negociações visando a demarcação de seu território, a Terra Indígena Kampa do rio Amônia, os ashaninka residentes no Brasil abandonaram definitivamente seu tradicional nomadismo e se f

UFSCar abre inscrições para vestibular exclusivo para a população indígena

Entre os dias 26 de novembro e 20 de dezembro, a UFSCar recebe inscrições para seu vestibular exclusivo voltado somente para candidatos das etnias indígenas do território brasileiro. Esta é a primeira vez que a Instituição realiza um vestibular dessa natureza, tornando-se a primeira universidade pública do Estado de São Paulo a promover um processo seletivo exclusivo para seleção de estudantes provenientes de comunidades indígenas. Esta edição especial do Vestibular foi contemplada pela aprovação do Programa de Ações Afirmativas da UFSCar, que entre outras definições determina a criação de uma nova vaga em cada um dos cursos de graduação presenciais da Universidade, destinada à população indígena do Brasil. Ao todo, estão sendo oferecidas 37 vagas, distribuídas nos *campi* de São Carlos, Araras e Sorocaba. Para participar deste processo seletivo, os candidatos devem ter cursado o Ensino Médio integralmente em escolas públicas e/ou nas escolas indígenas reconhecidas pela rede pública de

III Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia

Lideranças criticam falta de compromisso do Governo Lula com a efetivação dos direitos indígenas O repúdio às ações do Governo Lula, que caracterizam “falta de compromisso com a efetivação dos direitos indígenas”, marcou o primeiro dia de discussões do III Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia, realizado em Porto Velho-RO, de 28 a 30 de novembro, por iniciativa da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Ao avaliar a relação do governo com os povos indígenas, os líderes indígenas participantes do III Fórum, se manifestaram indignados contra a determinação do Governo Lula de implantar empreendimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como hidrelétricas, rodovias e hidrovias, sem consultar aqueles que serão empacados (quilombolas, populações ribeirinhas, povos indígenas, inclusive povos voluntariamente isolados); denunciaram o desrespeito à determinação da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) de discutir a min

Notícias dos Povos Indígenas

Jogos indígenas representam oportunidade para povos resgatarem raízes Além da competição esportiva, os Jogos dos Povos Indígenas, cuja edição atual está sendo realizada em Olinda (PE), representa uma oportunidade de resgate das raízes culturais. A avaliação é do dirigente do Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena, Marcos Terena. “Não se trata apenas de competições de índio contra índio. Por reunir várias etnias (44 nesta edição)], os Jogos são uma possibilidade de os povos observarem como os outros mantêm a cultura tradicional e buscarem fazer o mesmo”, explica Terena. “Muitos voltam para as aldeias com vontade de recuperar festas, cantos e os próprios esportes.” Entre os índios que perderam costumes e tradições, está o povo Pataxó. Eles vivem em 25 aldeias na Bahia, em Minas Gerais e no Espírito Santo. Com a ajuda de antropólogos e lingüistas, encontros entre as aldeias buscam resgatar a tradição. “Nas festas das aldeias vão os velhos, os professores, pesquisadores da pintur

'Única solução é baixar emissões', diz pesquisador

O fato de a Amazônia absorver grandes quantidades de carbono da atmosfera não pode ser usado pelo Brasil como argumento para não reduzir suas emissões, segundo o especialista Luiz Gylvan Meira Filho, do Instituto de Estudos Avançados da USP. A única solução real para as mudanças climáticas, disse, é diminuir a quantidade de gases do efeito estufa que é lançado na atmosfera, e não ficar pedindo crédito pelo que a natureza faz. Outros pesquisadores também ressaltam que quantificar o carbono absorvido pela Amazônia é importante para valorizar os serviços ambientais da floresta e reforçar medidas de conservação, mas não pode ser usado como desculpa para uma inação no combate às mudanças climáticas - OESP, 26/11, Vida, p.A13.

Dá para salvar a Amazônia?

"Desenvolver a Amazônia 'significa garantir proteção ambiental, condições de vida digna à população local e estímulo a uma economia que se nutra da existência da floresta e não de sua destruição', afirma o presidente Lula em artigo para a revista especial Grandes Reportagens - Amazônia. Não há como discordar do presidente. Mas sua afirmação não assegura uma resposta positiva aos que estão preocupados com o futuro da região. 'Soluções para a Amazônia têm de ser maiores que governos e mandatos, têm de ser assumidas pela sociedade brasileira e suas instituições, dentro de espaços inovadores de negociação, construção e implementação de decisões', diz o presidente Lula. De pleno acordo. Mas cabe ao governo impor a lei na Amazônia", editorial - OESP, 26/11, Notas e Informações, p.A3.

Educação Indígena: do Corpo, da Mente e do Espírito .

Um país multi-étnico O Brasil é um país multi-étnico desde seu principio. Neste solo moravam muitas e diferentes culturas lá pelo XVI quando aqui aportaram os invasores trazendo ganância e cruz. Eram mais de mil povos, segundo alguns. Eram mais de cinco milhões de pessoas segundo uns e outros. Falavam-se algo em torno de 900 línguas diferentes. Muitos dos povos que lá estavam aqui não estão mais. Foram devorados pela espada, pela ganância e pelo preconceito. Alguns povos se esconderam no meio da multidão que se formou pelo encontro, nem sempre amoroso, entre homens e mulheres de diferentes cores. Outros tantos fugiram para a floresta e guardaram enquanto puderam, sua memória e suas tradições. Hoje, ainda há uma diversidade cultural e lingüística no Brasil. Ainda há 230 povos e 180 línguas teimando em manterem-se vivos para o desespero daqueles que querem depredar ou piratear a riqueza contida no solo e subsolo desta nossa pátria mãe gentil. São povos que querem sobreviver com dignidade

Réquiem a um parente chamado Jorge Terena

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Biografias são compostas por pedaços das muitas vidas que vivemos durante nossa vida. Nunca somos um só, somos sempre uma pequena multidão que vive dentro da gente buscando formas de compreender nossa passagem por este mundo. Esta multidão age em diferentes direções e nos dão diferentes razões para viver. Não importa muito em que condição social nascemos. Nascer índio ou não-índio é apenas um detalhe. Há muitos que querem ser índio por terem amor pela causa ou por entenderem que isso é uma benção divina. Acabam se transformando. Há os que, sendo índio, desejam não sê-lo por causa do estigma a que são vítimas desde que nascem. Estes, normalmente, não são muito felizes, pois negam o que são vivendo uma vida que não lhes pertence de fato. Há alguns que, sendo índios, viveram outros caminhos, construíram outras histórias e, se quisessem, poderiam viver uma vida alheia à causa de seus parentes indígenas. Poderiam ser facilmente “capturados” pelo sistema econômico que promete sucesso aos que

Entrevista para a Revista Psiquê

RP: Conte-me um pouco, por favor, sobre sua trajetória pessoal. Sou um Munduruku nascido na cidade de Belém do Pará. Desde pequeno tive acesso à escola, mas ao mesmo tempo crescia aprendendo as coisas da aldeia, pois vivi ali ate meus 15 anos de idade quando decidi, em harmonia com minha família, seguir o caminho da escolarização. Para isso entrei no seminário salesiano decido a ser sacerdote católico. Vivi ali por seis anos até decidir que meu caminho era outro. Isso me deu a possibilidade de ingressar no mundo acadêmico no qual estou até hoje. RP: O senhor une os dois aspectos: faz parte de um grupo indígena e é habilitado em Psicologia. Que tipo de riqueza surge do intercâmbio de uma sociedade indígena com a Psicologia? Nunca imaginei que faria um curso superior qualquer que fosse. Venho de uma tradição que não tem a mínima preocupação em compreender a mente do outro, pois cada um já traz consigo o equilíbrio necessário para viver bem. Quando ingressei na universidade pude compreend

ENTREVISTA PARA A REVISTA RAIZ.

1. Quando você começou a escrever livros? Em 1996 foi lançado meu primeiro livro com o nome Histórias de Índio pela Companhia das Letrinhas. 2. Como anda a situação da literatura indígena no país? Avançou assustadoramente. Há hoje uma demanda muito grande por textos de autores indígenas. Esse boom nos pegou, inclusive, desprevenidos porque não temos autores suficientes para dar vazão a toda esta demanda. Infelizmente alguns parentes indígenas ainda não conseguem visualizar a importância do papel da literatura para o desenvolvimento de nossa visão de mundo. Creio que isso ainda vá demorar um pouco. Neste sentido, criamos o núcleo de escritores e artistas indígenas. Nosso objetivo é formar um quadro de profissionais que possam responder com responsabilidade a este tipo de demanda social. 3. Quais são os grandes escritores indígenas na sua opinião. E como eles têm conseguido exercer essa função? Há dois grupos de escritores indígenas: 1) os que estão criando uma literatura de ficção base

Quais os limites da propriedade intelectual?

Por Marco Aurélio Weissheimer, da Carta Maior Em entrevista à Carta Maior, a pequisadora Carol Proner, autora de uma tese de doutorado sobre Propriedade Intelectual e Direitos Humanos, fala sobre o dever constitucional da função social da propriedade e o respeito aos direitos coletivos, hoje ameaçados pela pressão dos países ricos e seus conglomerados econômicos.O debate sobre a propriedade do conhecimento vem ganhando crescente importância nos fóruns internacionais, em especial nas rodadas de negociação da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde o tema da propriedade intelectual industrial tornou-se alvo de acirrada disputa. Trata-se de um tema ainda relativamente desconhecido da maioria da população, embora diga respeito a vários aspectos do nosso cotidiano. Os medicamentos genéricos são, provavelmente, a ponta mais conhecida desse debate, constituindo hoje um sério ponto de divergências entre o seleto clube das nações mais ricas do mundo e o resto dos mortais.Em entrevista à Car

Carta aos Parentes Indígenas: Um novo Presidente da Funai.

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Prezados parentes indígenas, Resolvi conversar com vocês através de uma carta que vai, penso, ajudar-nos a compreender melhor a realidade brasileira que hoje nos cerca, principalmente, nesta primeira conversa, sobre a indicação de um novo presidente para a Funai. Sei que é de conhecimento de todos vocês que a Fundação Nacional do Índio foi criada em 1967 para substituir o antigo Serviço de Proteção ao Índio – SPI – que havia sido criado em 1910 pelo Marechal Rondon, de saudosa memória. O SPI foi a primeira tentativa de o governo brasileiro organizar uma política institucional para os povos indígenas que, até então, viviam sem nada concreto que pudéssemos chamar de política pública. Naquela época, o governo vivia sob a bandeira de uma orientação teórica que se chamava positivismo cuja principal teoria era a de que a humanidade passava por fases de desenvolvimento e que os povos indígenas iam naturalmente passar de seu “estado selvagem” para o processo civilizatório do ocidente. Isso nos

O tempo da leitura e a leitura do tempo

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(Texto apresentado em Bogotá, Colômbia, em 08 de outubro de 2007, por ocasião do Congresso de Literatura Brasil - Colômbia.) Em primeiro lugar gostaria de cumprimentar a todos os presentes na língua de meu povo Munduruku. É um cumprimento que se faz sempre que a gente chega a um lugar para uma visita, para contar histórias ou trazer noticias de outros lugares. É uma forma de dizer que um encontro verdadeiro é aquele em que a gente sempre sai melhor, mais forte, mas sábio, mais humano. Meu povo munduruku está presente em três estados brasileiros: Amazonas – onde aconteceu o primeiro contato com a sociedade brasileira; no Pará – onde os munduruku tiveram uma importante atuação na história local e onde nasci e cresci; e no Mato Grosso – para onde migraram algumas famílias na década de 1980. Este povo tem, portanto, uma relação antiga com a sociedade nacional tendo que adaptar-se em seu ser cultural para continuar vivo. Esta adaptação foi feita sobretudo no que se refere à necessidade de i