Pular para o conteúdo principal

Autor indígena participa do Projeto Escrevendo com o Escritor

O Instituto Francisca de Souza Peixoto promoveu nos dias 22 e 23 últimos, mais uma etapa do projeto Escrevendo com o Escritor, uma de suas mais festejadas iniciativas, que consiste em levar o escritor até o seu público, no caso, crianças que estudam do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. O escritor da vez foi Danel Munduruku, de origem indígena que já publicou quarenta livros e que foi recepcionado pela garotada no Centro Cultural Humberto Mauro onde falou sobre sua obra e a importância da leitura para um auditório completamente lotado.
Coordenado pela professora Andréa Toledo, pós-graduada em Tecnologias da Educação, o projeto envolve quase um semestre. Ela explica que ele começa quando as crianças conhecem– pela internet - o autor com quem vão trabalhar. “A partir daí lhes é proposto o tema de uma história que será escrito em conjunto por eles e o escritor. À medida que vai sendo redigido a gente publica no blog do projeto
(http://escrevendocomescritor.blogspot.com)”, completa.
Neste processo o papel do professor é o de ajudar na seleção dos livros mais importantes para a leitura das crianças e incentivar para que elas enfrentem o desafio. Além disso, são desenvolvidas outras atividades levando em conta o universo do autor. Estímulo à pintura, à música e à produção teatral são algumas que acontecem todos os semestres. O encontro com o escritor é a culminância do projeto, oportunidade de se conhecerem pessoalmente e de o autor responder às perguntas da criançada, além de distribuir dezenas de autógrafos.
Esta edição do Projeto Escrevendo com o Escritor com Daniel Munduruku teve uma curiosidade a mais. “No caso dele, especificamente, por ser índio, as crianças demonstraram um interesse maior em conhecê-lo”, comentou Andréa. Daniel é graduado em Filosofia, Historiador e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo. Já recebeu diversos prêmios, como o Jabuti de Literatura, e também no exterior. Ele disse que a experiência de participar deste projeto foi “absolutamente espetacular”. Ele revelou ter sido uma “experiência inédita” e que “ações alternativas e criativas como esta é que despertam verdadeiramente as crianças para o universo da leitura”.


por Marcelo Lopes
Blog do Marcelo Lopes

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...