Pular para o conteúdo principal

Índios tapeba realizam Festival de Culinária

CEARÁ

Índios tapeba realizam Festival de Culinária

Bolo de carimã, aluá, patchã, mocororó e outras comidas indígenas podem ser degustadas no Festival de Culinária que termina hoje em Caucaia, no Centro de Produção Cultural Tapeba

Roberta Félix
Especial para O POVO

18 Jul 2009 - 00h50min

Festival apresentará também durante todo o dia as tradicionais danças indígenas dos tapeba(Foto: IANA SOARES)

O povo tapeba se reúne hoje, de nove às 17 horas, no Centro de Produção Cultural Tapeba, em Caucaia, no 1º Festival de Culinária Indígena. Os visitantes poderão conhecer mais de dez pratos e bebidas diferentes, além da acompanhar a exposição de artesanato, os jogos indígenas e participar de brincadeiras interativas. A iniciativa foi motivada pela necessidade de reafirmar a presença dos índios em Caucaia, que são mais de 6 mil, segundo o coordenador do centro, Nailton Ferreira.

Despertam o apetite do visitante os bolos de batata, de macaxeira e de milho, patchã (uma farofa de massa de mandioca) e tapiocas recheadas com camarão ou passarinha (carne de boi temperada). Para saciar a sede, sucos, aluá, licor de abacaxi e o tradicional mocororó, que é o sumo do caju fermentado em garrafas enterradas. “Quanto mais tempo passar fermentando, melhor”, acrescenta a monitora Flávia Rocha.

As tapiocas são feitas no local por Ivanilda Pereira, 25, que aprendeu a cozinhar com a mãe, aos oito anos. O caranguejo que recheia a tapioca é tirado do mangue do rio Ceará, a fonte do sustento da família. Ivanilda já foi pescadora e hoje está aprendendo técnicas de turismo comunitário para trabalhar no Centro Cultural.

É o fazer do dia-a-dia de pessoas como Ivanilda que o local quer manter ativo e significativo. O festival foi preparado coletivamente, as índias das comunidades foram convidadas a fazer os pratos tradicionais e levá-los para a degustação. “A índia que trouxe o bolo de carimã na palha da bananeira é idosa, e é a única da comunidade que sabe fazer esse prato”, conta o coordenador Nailton Ferreira.

Os bolos, bebidas e outras comidas à base de mandioca, milho, camarão e caju são derivados do que as comunidades cultivam e do que pescam. “A gente vive da roça. Feijão e milho a gente não vende, come em casa mesmo. Vende só a mandioca”, conta Sebastião Jerônimo do Nascimento, 79, um dos líderes tapeba.

Para plantar e garantir a subsistência, os tapeba reivindicam a demarcação das terras onde vivem. Também líder de comunidade, Lúcia de Fátima Teixeira explica que a etnia quer receber apoio para efetivar seu direito à propriedade da terra. Ela acredita que divulgar as tradições é o caminho para chamar a atenção da sociedade.

SERVIÇO
Centro de Produção Cultural Tapeba - BR 222, km 07. A entrada é gratuita. Horário: 9 às 17 horas. Informações: 8720.2865.

PROGRAMA

>9 horas - Abertura
> 10 horas - Arremesso de lança
> 14h40min - Queda de braço
> 16 horas - Desfile e encerramento
> De 8 às 17 horas, estarão à venda comidas indígenas e peças de artesanato.
> Às 9h30min, 10h50min e 15h30min, haverá intervalos para interação com os visitantes, com brincadeiras de pé de quenga de coco, tiro ao alvo com flecha, pescaria, corrida de cavalo de talo, visita ao memorial.
> Os preços são acessíveis: a tapioca custa R$ 2, o aluá, R$ 1, e a fatia de bolo, R$ 1.

Fonte:http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/894313.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...