Pular para o conteúdo principal

Funai reconhece falhas na prestação de assistência aos guarani kaiowá

A administradora regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Dourados, Margarida Nicolleti, admite a ocorrência de atrasos na entrega de cestas básicas e de sementes para projetos agrícolas nas aldeias e acampamentos indígenas no sudoeste de Mato Grosso do Sul. Durante visita de quatro dias à região, a equipe da Agência Brasil ouviu reclamações de diversos líderes sobre a assistência prestada pela fundação às comunidades. Os índios da etnia Guarani Kaiowá sonham em recuperar áreas onde viveram seus antepassados e que hoje são ocupadas por fazendas. Segundo Margarida, a implementação de projetos agrícolas nas reservas depende do repasse de recursos pela Funai às administrações regionais. A Funai nacional, por sua vez, também precisa aguardar a liberação de verba pelo governo federal. Os atrasos na distribuição de cestas se limitam, de acordo com a Funai, a 22 comunidades que recebem o auxílio duas vezes por mês. "É um trabalho operacional difícil. Às vezes chove demais e as estradas ficam muito ruins", alegou Margarida, em entrevista por telefone.

A administradora considera, assim como o Ministério Público Federal (MPF), a estrutura funcional da Funai na região insuficiente diante do desafio de atender 40 mil índios, muitos vivendo em condição degradante.

"A gente também tem feito essa solicitação à presidência da Funai. É preciso melhorar o quadro, com profissionais qualificados de áreas afins como serviço social e agricultura de subsistência, para podermos prestar um bom serviço à comunidade, da forma que os índios merecem", disse.

Para a Funai, o preconceito agrava a situação dos índios confinados em pequenos espaços na região. "Infelizmente existe muito preconceito e desconhecimento da cultura indígena por parte da sociedade. Isso faz com que as pessoas tenham um entendimento diferente do que é o índio e da forma como ele vive", destacou a administradora.

Margarida criticou a postura de fazendeiros que responsabilizam a Funai pela precariedade das aldeias.

"No meu ponto de vista, a responsabilidade é de toda sociedade brasileira. Os governos do passado causaram esse problema, tirando índios de suas terras tradicionais e colocando em pequenas áreas. A Funai não tem como melhorar atendimento sem espaço. Há áreas que não tem onde plantar. Temos 23 acampamentos à beira de estrada onde não se tem o que fazer a não ser a ação emergencial de entrega de mantimentos."

Segundo a administradora, a Funai não pode remover os índios que vivem em acampamentos improvisados às margens de rodovias. Para minimizar o problema, a fundação distribui cestas básicas e doa lonas, casacos e cobertores para as famílias que esperam pelo reconhecimento de áreas tradicionais.

"A Funai não trabalha com a prerrogativa de tirar índio aqui e colocar lá. Os próprios grupos que foram para beira de estrada não querem retornar para aldeias velhas, porque saíram de lá para não brigarem entre si pelo espaço reduzido, com famílias muito próximas umas das outras. Não aceitam retornar por falta de condições de vida digna", explicou.

Agência Brasil

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...