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Índios discutem criação de universidade própria

A IV Cúpula Continental dos Povos Indígenas de Abya Yala, que acontece até este domingo (31) em Puno, cidade do Peru, discutiu a necessidade de criação de universidades indígenas, entre outros temas. A informação é da Agência Brasil.



Os grupos de trabalho tratam de questões, como o direito à água, a militarização de territórios e a contaminação dos rios por derivados de petróleo. Os representantes brasileiros estão como palestrantes em sete dos 14 grandes temas da cúpula.

A proposta de criação de universidades indígenas foi discutida no grupo temático sobre a Descolonização do Saber, Dívida Cultural e Transmissão Intergeracional. Foi defendido o papel dessas instituições: valorizar e trabalhar positivamente o saber local, propiciando que o indígena não se afaste de suas origens para estudar.

Para a antropóloga Rita Segato, da Universidade de Brasília (UnB), e uma das palestrantes, “é extrema a exigência sobre os jovens indígenas atualmente, que devem manter a sua própria cultura, e ainda vir para as universidades dos brancos, estudar como eles, para se tornarem médicos, advogados, voltando para ajudar suas comunidades”.

Para os demais participantes, é preciso criar um modo próprio de educar, onde se faça “não uma escola para a vida, mas da vida mesmo uma escola”.

No grupo sobre Educação Bilíngüe e Laica foram elaboradas duas propostas, que serão levadas para a plenária final: a realização do II Congresso Educativo de Abya Ayla e a criação da Rede Educativa Intercultural de Abya Ayla.



Arco-íris étnico



As ruas da cidade turística de Puno eram como um grande arco-íris, pintadas pelas bandeiras e roupas dos três mil participantes na marcha de abertura do encontro na sexta-feira passada (29).



A marcha terminou às margens do Lago Titicaca, o mais alto do mundo, a 3.800 metros do nível do mar, e ali foi realizada a cerimônia de “chamamento” das diferentes etnias presentes: aymaras, quéchuas, maias, kichwas, mapuches, yanacunas, ashaninkas, bartolinas, entre outras.

Na ocasião, Miguel Palacín, dirigente máximo da Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI), afirmou que “chegou o momento de deixarmos de ser invisíveis para o Estado, e defendermos nossos direitos como povos indígenas”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, enviou carta de saudação e apoio à cúpula.

A plenária final acontece neste domingo (31), quando também se realiza a cerimônia de encerramento da cúpula.

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