19 de abril – dia de comemorar o quê?

Hoje é dia do índio. Muitas escolas fizeram atividades para lembrar a existência das populações indígenas em nosso país. Muitas delas fizeram isso pedindo às crianças que desenhassem uma “oca”; outras pediram uma pesquisa sem pé nem cabeça. Algumas adotaram livros falando deles; outras vestiram meninos e meninas de “índio” e os puseram para representar a chegada dos europeus, cantar músicas preconceituosas ou pintaram seu rosto como os apaches americanos.
Certamente algumas ensinaram a coisa certa alertando os estudantes sobre a incoerência que ainda grassa no País a respeito dos povos indígenas. Lembraram as injustiças que se cometeram e se cometem ainda hoje contra aquelas pessoas que apenas desejam viver de modo diferente. Outras contaram histórias antigas para alertar que nosso país tem tradição, tem ancestralidade.
Algum professor ou professora lembrou que já fomos muitos e hoje somos tão poucos e estamos cada vez mais empobrecidos por conta da lógica do consumo, da ganância, da exploração, do capitalismo que continua dando ordens para toda a sociedade. Quem sabe alguém chorou ao lembrar que foi num dia como esse que queimaram o pataxó Galdino num ponto de ônibus de Brasília.
Talvez até alguém lembrou que nenhum governo em toda a história deste país assumiu claramente uma posição a favor dos 230 povos que ainda habitam teimosamente esta nossa terra. E que apenas um único indígena chegou a ser deputado federal em 508 anos de história.
Quem sabe alguém alertou para as dificuldades presentes em todos aqueles que se nomeiam indígenas. Disse isso mostrando que os nativos brasileiros não possuem terras suficientes para manter sua própria cultura; que há crianças morrendo de desnutrição; que jovens cometem suicídio por falta de perspectiva de vida; que grandes latifundiários continuam invadindo as terras indígenas apenas pelo prazer de destruir a natureza tão desesperadamente preservada por nossas comunidades.
Tomara que alguém tenha lembrado que há indígenas fazendo coisas muito importantes por este mundo afora: tem gente ganhando prêmios literários; participando da seleção brasileira de futebol feminino; ganhando prêmios em festivais de músicas; gravando CD’s que fazem sucesso; participando de competições esportivas nacional e internacionalmente; desenvolvendo pesquisas cientificas; cursando universidades, mestrados e doutorados em diversas partes do mundo; dançando em grande companhias de danças; atuando no cinema e na televisão; escrevendo e dirigindo filmes. Enfim, gente indígena que mostra seu talento e conquista multidões por este mundo afora. Tomara que não esqueçamos desses na hora de colocar para fora os estereótipos que ainda alimenta a imaginação de muita gente ignorante.
Hoje é um dia de refletir sobre a humanidade que desejamos construir. Será que nela haverá lugar para todos por mais diferentes que sejamos? Ou será que neste mundo só caberá a ignorância do preconceito, o fantasma da intolerância e a mediocridade dos que se acham melhores que outros?
Acrescento abaixo a linda poesia escrita por Eliane Potiguara, uma indígena nordestina vítima de preconceitos durante toda uma vida de luta pelos direitos humanos dos povos indígenas:

BRASIL
O que faço com minha cara de índia?
E meus cabelos
E minhas rugas
E minha história
E meus segredos?

O que faço com minha cara de índia?
E meus espíritos
E minha força
E meu Tupã
E meus círculos?

O que faço com minha cara de índia?
E meu Toré
E meu sagrado
E meus “cabocos”
E minha terra?

O que faço com minha cara de índia?
E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?

Brasil, o que faço com minha cara de índia?
Não sou violência
Ou estupro
Eu sou história
Eu sou cunha
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro.

Ventre que gerou
O povo brasileiro
Hoje está só...
A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantavam
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo.
(Texto retirado do livro: “Metade cara, metade máscara”. Eliane Potiguara. Global Editora. São Paulo, 2004)

Comentários

  1. Oi Daniel nós estudamos no colegio rosário,eu e minha amiga Fernanda adoramos seu livro ,mas achamos muito triste você escrever que seu avô morreu,pois ficamos muito tristes por você.
    beijos de suas mais novas amigas

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  2. São Paulo, 15 de abril de 2008
    Nós somos aluno do colégio Rosário.Queria dizer que seu livro "Meu vô Apolinário" ficou muito interessante.Aprendi a lidar com coisas que não são agradáveis, como o preconceito.E o que eu achei mais interessante foi seu afeto pela sua família e pela sua raça.A você n tenho criticas.


    DE vitor e adriano do 5 ano b

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  3. Daniel.Somos do Colegio Nossa Senhora do Rosário e samos de São
    Paulo.
    Seu livro que conta sobre uma parte de sua infancia parece que fez sucesso e esperamos saber mais de sua infancia e passe um e-mail para Paulo.Roberto.Hou@gmail .com obrigado Paulo e Victor

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  4. Papiiiiiiiiii
    achei muito legal o q vc escreveu sobre o dia do índio....
    adoreiiiiiiiiiii
    t.amO
    bjo

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  5. Olá Daniel!!!

    Nós lemos o seu livro " Meu vô Apolinário" e adoramos ler ele.
    Gostei da parte em que o seu avô aparece na história e te dá alguns conselhos.
    Gostaríamos que você respondesse esse nosso comentário.

    Abraços de: Karen Yumi e Letícia Alves

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  6. Oi Daniel,eu sou Camila Ferreira Poppi,e estudo no colégio Nossa Senhora do Rosário e li o seu livro meu vo apolinario,eu gostei muito do livro e achei interessante,parabens

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  7. Querido Daniel Munduruku,
    eu e os meus amigos lemos o livro
    "Meu vô Apolinário" e adoramos.
    Também limos o livro o "Diário de Kaxi"e também adoramos.O livro"Meu vô Apolinário"conta de sua infan_
    cia e apesar de ser feliz e triste.E o "Diario de Kaxi",também é interessante.Abraço para o Lucas,Gabriela e da Beatriz.E é claro,para você também,não é,Dani?

    Abraços,
    Arthur e Rafael

    São Paulo,17 de abril de 2008
    Colégio Nossa Senhora do Rosário

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  8. Daniel Munduruku, nós Eduarda e Amanda do Colégio Nossa Senhora do Rosário, gostamos muito muito do seu livro "Meu vô Apolinário", pois aprendemos muitas coisas com o seu livro como: aceitar os costomes dos índios, como eles são e a ter paciência.

    Muito obrigado por ler esse comentário.

    Eduarda e Amanda.

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  9. Olá Daniel Munduruku, nossos nomes são Beatriz e Milenna, queriamos dizer que gostamos muito do seu livro "Meu vô Apolinário".
    O capítulo que mais gostamos foi o "O avô Apolinário se une ao grande rio", pois foi muito emocionante!!
    Esperamos que nos escreva!!!
    Beijos Milenna e Beatriz.

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  10. Olá, Daniel,
    Nós estudamos no colégio Nossa Senhora do Rosário.
    E nos lemos o seu livro e adoramos oque lemos.
    Boa sorte no seu sucesso !
    abraços!

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  11. Olá Daniel Munduruku, nossos nomes são Beatriz e Milenna, queriamos dizer que gostamos muito do seu livro "Meu vô Apolinário".
    O capítulo que mais gostamos foi o "O avô Apolinário se une ao grande rio", pois foi muito emocionante!!
    Esperamos que nos escreva!!!
    Beijos Milenna e Beatriz.

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  12. Olá, Daniel!
    Por tudo que eu li aqui, estou comemomorando VOCÊ, meu índio preferido!
    Sempre leio seus livros e narro suas histórias para as crianças. Indiquei os seus e de outros escritores indígenas para os professores lerem para seus alunos,nesta data. Com o tempo a gente muda essa prática. Tenho esperança.
    Abraços.

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  13. Voltei para dizer que publiquei no meu blog um trecho deste artigo remetendo ao seu blog.
    Abraços.

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  14. Olá, Daniel visitei seu site e seu blog. Pretendo ler seus livros e conhecer seu trabalho. Muito bom seu texto sobre o Dia do Indio, gostei muito; e já é tempo de desmistificar essa tradicional e eronea forma de ver os povos indigenas. Afinal se nós somos capazes de respeitar todos os outros tipos de cultura, porque é que não podemos respeitar e valorizar a cultura e o conhecimento dos primeiros brasileiros. Definitivamente é hora de mudar.
    Um grande abraço e sucesso!!!!

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  15. Olá Daniel! Prazer em conhecê-lo! Passei por aqui por indicação da colega Débora Menezes que faz um trabalho muito legal sobre Educomunicação. Através dela tive a oportunidade de conhecer um pouco do que você pensa e escreve. Adorei! Josete
    http://jmzimmer.blog.uol.com.br

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