Pular para o conteúdo principal

Governo garante, a partir de 2012, formação superior para indígenas

Da Redação
Agência Pará
A partir de 2012, integrantes de etnias indígenas do Pará poderão ter formação em nível superior. A iniciativa é resultado de um acordo firmado entre o Governo do Estado, Ministério Público do Trabalho e Ministério Público Federal, em dezembro do ano passado. A instituição executora do plano de trabalho para a formação de professores indígenas será a Universidade do Estado do Pará (Uepa), em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
O curso de Licenciatura Intercultural será ofertado pela Uepa a partir do primeiro período letivo de 2012, com a abertura de 90 vagas, divididas em duas turmas. Já a Seduc deverá elaborar um projeto de criação de cargo de professor indígena de nível superior e encaminhá-lo à Assembleia Legislativa do Estado. Estas ações visam garantir o ensino nas escolas indígenas até a última série do ensino médio. O projeto de lei para a criação do cargo de professor indígena deverá ser enviado à Assembleia Legislativa até o final do semestre de 2010.
O plano de formação de professores indígenas atenderá as escolas de nível fundamental em 12 aldeias dos povos Tembé, Parkatejê e Kyikatêjê, que pertencem ao Estado.
Crescimento - De acordo com o Censo Escolar Indígena do Ministério da Educação (MEC), publicado em 2005, estavam matriculados no ensino básico 164 mil alunos indígenas, desde 2002. Nesses três anos, houve um crescimento de 40% no alunado indígena. Já no ensino médio, o crescimento no mesmo período foi de 300%.
O saldo no ensino superior também foi positivo, registrando 2,5 mil índios. Porém, 70% deles cursando em instituições privadas, o que aponta a necessidade do Estado criar condições para a inserção da população indígena em instituições públicas de ensino superior.
A Uepa tem acompanhado, mais efetivamente, as políticas públicas para os povos indígenas do Pará desde abril de 2007, com a realização da Semana dos Povos Indígenas do Pará, em parceria com o governo federal e organizações indígenas locais, da qual participam representantes dos índios.
Neste evento, foi elaborada a "Carta dos Povos Indígenas", que contempla a apresentação de 60 proposições relativas aos problemas vivenciados pelos povos indígenas do Pará em setores prioritários, como educação, saúde, infraestrutura, proteção e valorização do patrimônio cultural, sustentabilidade econômica e geração de renda, proteção e gestão territorial.
A partir da carta, o governo do Pará propôs a construção coletiva das diretrizes da Política Indigenista do Estado do Pará, em que participaram representantes sociais e políticos das esferas governamentais nos âmbitos municipal, estadual e federal, bem como de organizações da sociedade civil indígena em que se consolidam os espaços e as ações de esfera de defesa, proteção e promoção dos direitos humanos e indígenas no Estado. Assim, foi constituído pela governadora o Comitê Intersetorial de Políticas Públicas Indigenista do Estado do Pará, que reúne 42 órgãos.
Uma das diretrizes apontadas pelos povos indígenas para a Uepa foi a constituição de uma comissão para implantar as políticas afirmativas para os povos indígenas. A necessidade de acesso ao ensino superior pelos indígenas, assim como a oferta da Licenciatura Intercultural pelas universidades, foram as demandas apontadas pelos indígenas durante as conferências regionais de Educação Escolar Indígena, realizadas em 2009, em Belém e Marabá. Como resultado, a universidade, em parceria com a Seduc, iniciará em 2012, o plano de trabalho para a formação de professores indígenas.
Ericka Pinto - Uepa

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...