Pular para o conteúdo principal

Índios Guarani lançam manifesto pedindo retirada de usina no MS


Usina gerida por joint venture teria causado problemas de saúde a índios.
Companhia Raízen, produtora de etanol, diz buscar diálogo com população.

Do Globo Natureza, em São Paulo
Índios da tribo Guarani, da cidade de Caarapó, a 273 km de Campo Grande (MS), exigem a retirada de uma usina de produção de etanol administrada pela companhia Raízen, uma joint venture entre a companhia brasileira Cosan e a multinacional britânica Shell, e a redução das áreas de plantio de cana-de-açúcar.
Em carta escrita em julho deste ano, mas divulgada nesta semana pela organização Survivor International, sediada na Inglaterra, os indígenas da comunidade Guymaoka afirmam que desde o início do plantio da cana na região, em 2005, não é possível encontrar ervas e outros vegetais utilizados para elaborar remédios artesanais.
Em um trecho da carta, os indígenas afirmam que após o funcionamento da usina, em 2010, “a saúde ficou ruim para todos, as nascentes de rios ficaram rasas e os peixes de rios e lagoas sumiram”.
Carta escrita pela comunidade indígena Guymnoka, da etnia Guarani, que pede a retirada da usina de produção de etanol da região de Caarapó (Foto: Reprodução/Survivor)Carta escrita pela comunidade indígena Guymaoka, da etnia Guarani, que pede a retirada da usina de produção de etanol da região de Caarapó (Foto: Reprodução/Survivor)
De acordo com a Survivor, os índios Guarani têm sofrido com a falta de mapeamento de terras para uso exclusivo, que deveria ser realizado pelo governo federal, alegando que a população indígena fica vulnerável à exploração dos canaviais.
A Raízen informou por meio de comunicado que trabalha “de forma proativa em busca de uma solução consensual para a questão que envolve o cultivo de cana em Caarapó, cuja área encontra-se sobre litígio”.
O comunicado informa ainda que a empresa mantém diálogo com as partes envolvidas, respeitando os direitos da população indígena e o das entidades jurídicas com as quais a Raízen tem relações comerciais e contratuais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...