Pular para o conteúdo principal

Documentário contra a construção de Belo Monte conquista público de Paulínia

Personagem do filme, Índia da tribo xipaia lidera movimento contra a barragem que afetará a vida dos habitantes e os ecossistemas da região


Jornal do Brasil
Carlos Helí de Almeida, de Paulínia

A obra mais controversa da gestão Dilma Rousseff, herdada do governo Lula, acaba de ganhar um poderoso instrumento de oposição. Exibido na noite desta quarta-feira, dia 13, na competição do 4º Festival de Paulínia, À margem do Xingu – Vozes não consideradas  se propõe justamente a isso: servir de veículo para a versão daqueles que ficaram de fora do debate sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Floresta Amazônica paraense, em um trecho do rio Xingu.
Dirigido pelo espanhol Damià Puig, o filme percorre cidades ribeirinhas que serão direta ou indiretamente afetadas pelo represamento do rio, e colhe depoimentos de moradores, agricultores e  indígenas que habitam ou trabalham na região. Também ouve especialistas da áreas ambientais, técnicos e sociais sobre o projeto polêmico, que ganhou licença do Ibama mês passado depois de diversos confrontos do governo com o órgão, que resultou na troca de sua diretoria.

Juma Xipaia no palco do Theatro Municipal de Paulínia: protesto contra a hidroelétrica
Juma Xipaia no palco do Theatro Municipal de Paulínia: protesto contra a hidroelétrica

“Antes de Belo Monte, a nossa região vivia abandonada, esquecida pelo estado e pelos políticos. Só lembraram da gente quando precisaram de energia para alimentar a indústria que exporta os minérios da região para o exterior”, protestou Juma Xipaia, jovem índia da tribo xipaia e presidente da Associação dos Indígenas Moradores de Altamira-PA (Aima), durante a coletiva do longa-metragem produzido pelo brasileiro Rafael Salazar.
Personagem do documentário de Puig, Juma já havia conquistado a plateia que lotou o Theatro Municipal de Paulínia para a primeira projeção de À margem do Xingu, na noite anterior. “Não tenho qualquer pretensão de fazer carreira pública. A política brasileira é corrupta e muito suja. Nosso trabalho (de resistência) é o que me fortalece. Estou feliz por poder estar aqui representando a minha aldeia, lá de Tucamã”, contou Juma.
Concluído em janeiro de 2010, no momento em que a licença prévia que permitiria o leilão da usina de Belo Monte tramitava no Congresso, o documentário amplia o debate sobre o represamento dos rios amazônicos para a construção de hidroelétricas e o impacto delas no meio ambiente. À margem do Xingu também será exibido em comunidades da região amazônica, cineclubes, universidade, escolas e eventos relacionados a problemática ambiental.

Jornal do Brasil

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...