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Governo assina decreto instituindo Feira do Livro Indígena de Mato Grosso

Da Redação

O Governo do Estado instituiu, nesta manhã de quarta-feira (12.08) no Cine Teatro Cuiabá, a Feira do Livro Indígena de Mato Grosso (FLIMT), programada para ocorrer de 06 a 10 de outubro de 2009 na capital. O evento será voltado à divulgação da cultura indígena com lançamentos e leituras de livros, encontro de escritores, contação de mitos e histórias, oficinas, palestras, pinturas corporais e sarau.

A feira é organizada pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC-MT) parao incentivar e abrir o diálogo entre as culturas. Cerca de 200 títulos de autores indígenas regionais e nacionais de 700 etnias serão expostos nos cinco dias da FLIMT no Centro Histórico de Cuiabá, no Palácio da Instrução e Praça da República. Segundo o secretário de Cultura, Paulo Pitaluga, o Governo também busca mostrar o diferencial da cultura indígena, inclusive nas produções literárias.

O diretor-presidente do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (Inbrapi), Daniel Munduruku, lembrou que o Governo de Mato Grosso é pioneiro na iniciativa. Para ele, a realização desta feira é “um momento muito importante e gratificante aos povos indígenas brasileiros, porque é um reconhecimento. Os nossos povos têm algo a dizer à sociedade brasileira”, comentou Daniel Munduruku.

O evento abre a oportunidade para os autores indígenas mostrarem suas publicações no âmbito da leitura, tanto na divulgação como na distribuição dos conhecimentos tradicionais produzidos por meio da Literatura. O representante da Inbrapi informou que a maioria das produções dos índios é voltada ao estilo infanto-juvenil, romance, poesia, ficção e títulos dissertativos, inclusive bilíngue. Mas, também já publicam livros paradidáticos, conforme acrescentou o diretor-presidente.

A lei federal de nº 11.645/2008 determinou a inserção do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas escolas brasileiras. Daniel Munduruku revelou que desde então a demanda pelas produções indígenas em todo o país aumentou, principalmente entre as editoras. “Uma coisa bacana neste movimento da literatura, da arte indígena, é que ela está alcançando o Brasil de Norte a Sul”, comemorou o representante da Inbrapi e comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República.

LEITURA

O Inbrapi defende que para a sociedade que o livro é um instrumento importantíssimo para se criar uma consciência tanto nas comunidades indígenas como na própria sociedade brasileira. “Queremos mostrar para a sociedade que temos um conhecimento, uma cultura muito rica, um jeito de existir e estar no mundo, que é um jeito muito próprio e peculiar e que não tem nada de contraditório com que a sociedade brasileira vive”, disse ainda Daniel Munduru, ao dizer que é isso que buscam divulgar por todos os “cantões” do Brasil.

O secretário de Estado de Educação, Ságuas Moraes, classificou a feira como um momento de intercâmbio cultural, para se refletir também as preocupações do Governo com relação às questões de garantia aos direitos dos povos indígenas de Mato Grosso. A solenidade no Cine Teatro contou ainda com a apresentação cultural do músico Márcio Bororo, que entre outras canções regionais entoou uma canção na língua Bororo.

Participaram ainda da assinatura do decreto que instituiu a FLIMT, os secretários-adjuntos de Estado Acelina Marques (Casa Civil) e Oscemário Daltro (Planejamento e Coordenação Geral), e outras autoridades regionais.

Fonte: Jornal O documento

Comentários

  1. Parabens meu amigo irmão de luta pela trajetória, em prol da nossa Literatura Indígena. Você, abixo de ñanderu, está sempre nos acolhendo e nos mostrando a fazer parte e a cuidar dessa arvore frondosa que é a literatura indígena alimentada pelos saberes ancestrais. Bjos de luz, Grauninha

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