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Reflexos da Ancestralidade


Os Guarani costumam dizer que o passado não está ANTES do presente, mas DENTRO do presente. Sabemos que o mundo é movido por inúmeras energias, que estão presentes desde os tempos remotos. Nossos ancestrais aprenderam a usar estas forças ao longo do tempo em vários seguimentos.
O tempo deixou suas pegadas e marcas, que hoje carregamos e continuam aqui, conosco. Somos a impressão do reflexo de uma ancestralidade, que nos confiou o legado de um tempo que não termina, que continua em nós, de um espaço que está marcado por esses passos remotos.
A morte levou nossos ancestrais para outro plano, mas o tempo preservou parte da história: o canto, a dança, a bebida tradicional e a força que faz do indígena um ser pleno no seu mundo.
Reflexos da Ancestralidade revela parte da vida e da cultura indígenas, narradas por vários autores com esta origem em livros que relatam belas histórias e a presença destes povos como sobreviventes num mundo cheio de códigos e condutas contrárias a preservação natural ou planejada do planeta.
A tradição indígena tem como princípio o respeito ao outro, que está num mesmo nível de igualdade, desde o menor ao maior dos seres. É nesta base que o mundo se equilibra, permitindo que cada um tenha, por direito, a possibilidade de viver o seu tempo, quer seja sobre ou sob a terra, no ar, nas águas ou debaixo delas.
Esta exposição revela que é com a mistura dos sentidos e da própria história, que os artistas plásticos Uziel Guainê, do povo indígena Maraguá, do Amazonas, e Jaider Esbell Macuxi, de Roraima, transportam para telas o olhar ancestral transfigurado e atualizado, advindo do tempo imemorial com seus reflexos ancestrais.
Cristino Wapichana 

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