Pular para o conteúdo principal

Índio cursa mestrado na UFG para garantir melhor educação em aldeia

Índio cursa mestrado na UFG para garantir melhor educação em aldeia

Professor em sua aldeia, o índio xerente Dansonkekwa se esforça para concluir seu mestrado em direitos humanos na Universidade Federal de Goiás (UFG) para lutar por uma educação indígena de qualidade para que as tradições de sua cultura sejam mantidas. Para conseguir os objetivos, o indígena deixou sua casa no Tocantins para enfrentar as dificuldades da língua portuguesa e morar com outros estudantes.
Dansonkekwa se apoia no significado de seu nome para ultrapassar as dificuldades e conseguir se formar. “Meu nome significa aquele que abre o caminho, que faz a trilha”, diz com orgulho. Porém, para facilitar o seu convívio fora da aldeia, o índio escolheu usar o nome Ercivaldo.
O maior objeto é garantir que as leis relacionadas ao povo indígena sejam cumpridas, inclusive o acesso às crianças a livros didáticos na língua nativa da etnia, e não em português. “A minha busca vai ser nessa área de ser reconhecido a partir dos direitos garantidos pela constituição brasileira e nós temos esse direito. Precisa de alguém que está apto pra elaborar o plano de como que a escola seria na comunidade no dia a dia”, explica Ercivaldo.
Com isso, ele acredita que as tradições de seu povo serão mantidas e passadas às novas gerações. “No mundo escolar, a gente pode transformar a oralidade para escrita, nos documentários e pode servir de ferramenta para que possamos futuramente mostrar e valorizar a nossa cultura”, complementa.
O estudante é o primeiro indígena a cursar o mestrado em direitos humanos pela UFG. Ercivaldo se considera privilegiado por estar abrindo portas e por poder servir de exemplo para outros índios que também desejam usar a educação como forma de ajudar suas aldeias.
Para o professor do mestrado, Douglas Pinheiro, a participação de um indígena na sala de aula é benéfica para todos os estudantes. “Isso cria uma nova dinâmica de ocupação do espaço. E em um mestrado de direitos humanos, isso é fundamental, porque um dos aspectos que nos costumamos discutir é ocupar espaços sociais. E quando o Ercivaldo está aqui presente, ele está como pessoa, obviamente, e a presença dele já é um testemunho vivo, mas ele também verbaliza as suas demandas, as suas angústias”, relata.
Para os alunos, a troca de experiência também gera um grande aprendizado. “É uma grande vitória pra ele e para o grupo étnico dele também. E nós fazemos parte com muita honra. Ele nos ensina muito todos os dias e isso é muito bom”, disse Fabrício Rosa, que é um dos 15 alunos do mestrado.
Dificuldades – O caminho para a realização do sonho não tem sido fácil para Ercivaldo. Além da saudade dos seis filhos que ficaram na aldeia, em Tocantins, o estudante enfrenta dificuldades com a língua e também com a moradia.
“Eu tenho alguns problemas de compreensão das palavras acadêmicas e eu estou tentando me adaptar, porque a língua portuguesa, pra mim, é uma língua inglesa, estrangeira”, diz o indígena.
Além disso, por não ter bolsa de estudo, Ercivaldo depende da Casa do Estudante Universitário, mantida pela UFG, para morar. Ele foi acolhido por outros estudantes da etnia xerente que estudam na instituição, porém está em situação irregular. A moradia é apenas para estudantes de graduação e como ele cursa o mestrado, não poderia continuar no local. Para tentar se manter na casa, o estudante já escreveu uma carta para o reitor da universidade, pedindo ajuda para que ele possa continuar alojado e continuar os estudos.
Mas, para superar tudo isso, o indígena se apoia nas fotos que carrega da família e também na esperança que todos depositam nele. “Ele é uma pessoa que a gente tem visto que com certeza vai contribuir conosco. Essa é a esperança. A gente fica também muito feliz. Com certeza é uma conquista para o nosso povo”, disse o cacique da aldeia, José Xerente. (Fonte: G1)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A FORÇA DE UM APELIDO

A força de um apelido [Daniel Munduruku] O menino chegou à escola da cidade grande um pouco desajeitado. Vinha da zona rural e trazia em seu rosto a marca de sua gente da floresta. Vestia um uniforme que parecia um pouco apertado para seu corpanzil protuberante. Não estava nada confortável naquela roupa com a qual parecia não ter nenhuma intimidade. A escola era para ele algo estranho que ele tinha ouvido apenas falar. Havia sido obrigado a ir e ainda que argumentasse que não queria estudar, seus pais o convenceram dizendo que seria bom para ele. Acreditou nas palavras dos pais e se deixou levar pela certeza de dias melhores. Dias melhores virão, ele ouvira dizer muitas vezes. Ele duvidava disso. Teria que enfrentar o desafio de ir para a escola ainda que preferisse ficar em sua aldeia correndo, brincando, subindo nas árvores, coletando frutas ou plantando mandioca. O que ele poderia aprender ali? Os dias que antecederam o primeiro dia de aula foram os mais difíceis. Sobre s...

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO

MINHA VÓ FOI PEGA A LAÇO Pode parecer estranho, mas já ouvi tantas vezes esta afirmação que já até me acostumei a ela. Em quase todos os lugares onde chego alguém vem logo afirmando isso. É como uma senha para se aproximar de mim ou tentar criar um elo de comunicação comigo. Quase sempre fico sem ter o que dizer à pessoa que chega dessa maneira. É que eu acho bem estranho que alguém use este recurso de forma consciente acreditando que é algo digno ter uma avó que foi pega a laço por quem quer que seja. - Você sabia que eu também tenho um pezinho na aldeia? – ele diz. - Todo brasileiro legítimo – tirando os que são filhos de pais estrangeiros que moram no Brasil – tem um pé na aldeia e outro na senzala – eu digo brincando. - Eu tenho sangue índio na minha veia porque meu pai conta que sua mãe, minha avó, era uma “bugre” legítima – ele diz tentando me causar reação. - Verdade? – ironizo para descontrair. - Ele diz que meu avô era um desbravador do sertão e que um dia topou...

HOJE ACORDEI BEIJA FLOR

(Daniel Munduruku) Hoje  vi um  beija   flor  assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil. Pensei nas palavras de minha avó: “ Beija - flor  é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda  beija - flor .” Foto Antonio Carlos Ferreira Banavita Achava vovó estranha quando assim falava. Parecia que não pensava direito! Mamãe diz que é por causa da idade. Vovó já está doente faz tempo. Mas eu sempre achei bonito o jeito dela contar histórias. Diz coisas bonitas, de tempos antigos. Eu gostava de ficar ouvindo. Ela sempre começava assim: “Tininha, há um mundo dentro da gente. Esse mundo sai quando a gente abre o coração”...e contava coisas que ela tinha vivido...e contava coisas de papai e mamãe...e contava coisas de  hoje ...